SITUAÇÃO LASTIMÁVEL

Operação resgata idosos de ‘pocilga’ em Nova Odessa

Dono e gerente de clínica irregular são presos por cárcere privado, maus-tratos e furto de energia

Alenita Ramirez/ [email protected]
31/03/2023 às 09:18.
Atualizado em 31/03/2023 às 09:18
Clínica imunda e irregular abrigava 23 internos de várias idades, muitos idosos e com a saúde debilitada (Junior Guarnieri)

Clínica imunda e irregular abrigava 23 internos de várias idades, muitos idosos e com a saúde debilitada (Junior Guarnieri)

O proprietário, de 50 anos, e o gerente, de 36, de uma clínica para idosos e dependentes químicos foram presos em flagrante por cárcere privado, maus-tratos e furto de energia elétrica, na quarta-feira (29) à noite, em Nova Odessa. Mesmo interditada pela Vigilância Sanitária municipal no dia 9 de fevereiro, a clínica de reabilitação, que mais parecia uma pocilga, funcionava sem alvará em uma chácara no bairro Chácaras Central, na região da Fazenda Velha, segundo a prefeitura. O local abrigava 23 internos de várias idades e a maioria debilitada. 

A prisão aconteceu durante uma força-tarefa formada por equipes da Vigilância Sanitária, Saúde, Promoção Social, Guarda Municipal (GM) e Polícia Civil após denúncias de irregularidades. De acordo com o inspetor da GM, Alan Goulart, os internos foram encontrados trancados em um quarto coletivo com instalação de energia elétrica precária, sem alimentação e medicação. No local havia apenas uma jarra com um pouco de água suja e um único copo. Havia idosos acamados com fralda suja. "A situação era muito precária, insalubre. Como as instalações de energia estavam irregulares, essas pessoas corriam o risco de vida, pois havia pacientes que são cadeirantes e alguns com dificuldade de locomoção, sem contar que a porta estava trancada com cadeado. Então se acontecesse um incêndio, eles morreriam", contou Goulart.

Técnicos da CPFL foram chamados ao local e constataram que a energia usada no prédio vinha de uma ligação clandestina, o chamado gato, do poste de iluminação de um salão paroquial onde antes funcionava uma escola rural. Os agentes de segurança e servidores da prefeitura também encontraram restos de comida espalhados pelo chão dos quartos e falta de lençóis. Os internos estavam em situação crítica. Um deles, inclusive, estava com berne.

De acordo com relatos de familiares para a polícia, a internação tinha custo entre R$ 1,3 mil a R$ 3 mil mensal. Em alguns casos, a direção da clínica estava de posse do cartão do benefício continuada (Loas) das vítimas. Uma pessoa reclamou que o chinelo que tinha levado para o interno estava com um colaborador da clínica. 

Uma familiar de interno ouvido no local no momento da ação pela reportagem do jornal O Liberal, de Americana, relatou que um tio com dificuldades de locomoção estava na clínica havia seis meses e ela não sabia que o local tinha sido lacrado. Ainda conforme as famílias, elas eram impedidas de visitar os internos. "Não nos deixavam entrar no quarto do meu tio, pois diziam que era por conta das restrições da covid-19. Não poderia imaginar que estava nessas condições", disse a mulher para a equipe.

Outros parentes que compareceram ao local relataram que os pacientes estavam na clínica havia mais de um ano e que a havia indicação de ser um estabelecimento dirigido por uma igreja evangélica, fato este que sustentou credibilidade por parte dos familiares das vítimas. 

Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, a clínica não tinha registro e nem autorização de funcionamento e por conta disso foi interditada no mês passado. "Trata-se de uma nova ação na mesma clínica de reabilitação que funciona de forma irregular e que já havia sido interditada pela Vigilância Sanitária do Município por uma série de irregularidades e inadequações", informou por nota, frisando que na época havia cerca de 60 internos no local.

De acordo com a prefeitura, o caso é acompanhado desde o início das reclamações e denúncias tanto pela Vigilância Sanitária quanto pela Promoção Social do Município, a pedido do Ministério Público Estadual (MP/SP). "A ViSa (Vigilância Sanitária) recebeu na terça-feira (28/03) uma nova denúncia, de que o estabelecimento irregular havia 'reaberto' e mantinha internos contra sua vontade. A ViSa acionou a Polícia Civil para uma ação conjunta e ao chegar ao local, as equipes confirmaram as denúncias, deixando claro que os responsáveis desobedeceram a ordem de interdição e encerramento imediato das atividades de fevereiro", frisou nota.

Segundo a prefeitura, muitos dos internos estavam em condições precárias de saúde e que necessitavam de atendimento médico de urgência. Ainda conforme a Administração Pública, ao menos dez dos internos foram levados para o Pronto Socorro do Hospital Municipal onde permanecem internados e sob tratamento e acompanhamento médico. Os demais foram encaminhados de volta às suas respectivas famílias. "A ViSa emitiu novo auto de infração e lacrou novamente o estabelecimento", destacou a assessoria de imprensa em nota.

Os suspeitos foram levados à delegacia de Nova Odessa e depois para a Cadeia Pública de Sumaré, onde ficaram à disposição da Justiça. 

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