LEVANTAMENTO DA ANP

Etanol tem alta de 13,69% no primeiro quadrimestre

Preço médio do combustível nos postos de Campinas era de R$ 3,36 no início do ano e agora está em R$ 3,82

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
01/05/2024 às 10:28.
Atualizado em 01/05/2024 às 10:28
A variação entre o menor e o maior valor encontrado foi de R$ 0,50 na cidade; preço mais em conta verificado foi de R$ 3,49, no Centro, enquanto o mais caro, R$ 3,99, foi encontrado no Botafogo, Jd. Guanabara e distrito de Barão Geraldo (Rodrigo Zanotto)

A variação entre o menor e o maior valor encontrado foi de R$ 0,50 na cidade; preço mais em conta verificado foi de R$ 3,49, no Centro, enquanto o mais caro, R$ 3,99, foi encontrado no Botafogo, Jd. Guanabara e distrito de Barão Geraldo (Rodrigo Zanotto)

O etanol acumula alta de 13,69% no preço médio praticado nos postos de combustíveis de Campinas nos primeiros quatro meses deste ano. A variação supera a inflação acumulada nos últimos 12 meses, período encerrado em março, que foi de 3,93%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O litro do combustível era comercializado a R$ 3,36 no dia 1º de janeiro contra os R$ 3,82 cobrados na última sexta-feira (27), segundo levantamento de preços feito em 24 estabelecimentos e divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na segunda-feira. Essa elevação no valor pago pelo etanol tem gerado reclamações dos consumidores. 

“A empresa obriga o uso apenas de etanol, justificando que é mais barato, mais econômico, mas ele não para de subir”, criticou ontem a coordenadora de merchandising Michele de Paula Silva, que circula diariamente pelas cidades da região. De acordo com ela, os reajustes constantes diminuem até mesmo a variação de preços entre as cidades. “Antes, em Mogi Mirim e Mogi Guaçu, por exemplo, era possível encontrar o etanol bem mais barato. Agora a diferença quase não existe”, desabafou enquanto abastecia em Campinas para mais um dia de trabalho.

Considerando somente abril, o preço médio do etanol teve reajuste de 0,73%, enquanto o IPCA acumulado de janeiro a março foi de 1,42%. O aumento representou, na prática, uma diferença de R$ 0,26 por litro, considerando que na primeira semana do mês o valor cobrado era de R$ 3,56. Ou seja, são R$ 13 a mais para encher o tanque de 50 litros de um dos carros mais vendidos no mercado nacional. Já o preço médio da gasolina apresentou reajuste de 4,16% no acumulado de 2024, passando de R$ 5,52 para R$ 5,75. O preço máximo cobrado se manteve estável em R$ 5,99.

“De centavo em centavo, o etanol não para de subir. Não dá para entender aonde esses caras querem chegar”, criticou o corretor de imóveis José Lima. Ele justificou que há poucos meses conseguiu pagar o litro em uma promoção a R$ 2,89, mas ontem o melhor preço que encontrou foi R$ 3,69 em um posto no Parque Industrial. “Fui ontem até Sorocaba e gastei R$ 120 apenas de combustível. Hoje (ontem) vou ter que voltar e lá se vão mais R$ 120. Isso sem contar o gasto com três pedágios. Só o de Indaiatuba (na Rodovia Santos Dumont) já custa R$ 17,40. É revoltante”, protestou.

MOTIVO

Para o economista Francisco José Peixoto Rosário, a alta do combustível neste início de ano está ligada ao período de entressafra da cana-de-açúcar. “As usinas do Centro-Sul, que é a principal região produtora do país, estão em uma fase de recomposição dos estoques”, afirmou. Ele acrescentou que a tendência futura é de manutenção dos preços ou até mesmo de queda, pois a nova safra teve início oficialmente no último dia 1º.

A primeira estimativa da safra de cana-de-açúcar 2024/25, divulgada na última quinta-feira (25) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), indica que o Brasil deve produzir 685,86 milhões de toneladas, uma redução de 3,8% em relação à safra anterior. “Entre os fatores apontados estão os baixos índices pluviométricos, aliados às altas temperaturas registradas na Região Centro-Sul, que causaram perdas na produtividade, estimada em 79,079 quilos por hectare, 7,6% abaixo da obtida na safra anterior, que foi favorecida pelas boas condições climáticas”, apontou o relatório da empresa vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura.

De acordo com o levantamento da Conab, a área de colheita da cana apresentou crescimento de 4,1%, passando de 8,33 milhões de hectares para 8,67 milhões de hectares. O crescimento deve-se ao aumento de áreas em expansão e renovação, sendo que a colheita na região Centro-Sul, já iniciada, passa a se intensificar a partir de maio. No Sudeste, onde se concentra a maior produção de cana-de-açúcar do país (64,6%), estima-se uma produção de 442,74 milhões de toneladas. Isso significa uma retração de 5,6% frente à safra 2023/24, com a maior redução observada em São Paulo, de 28,32 milhões de toneladas, em comparação com o “excelente resultado da safra passada”, segundo a empresa.

VARIAÇÃO

Apesar da queda na produção, o diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Álcool (Unica), Luciano Rodrigues, argumentou que a projeção de colheita continua boa, garantiu o abastecimento do mercado e manutenção do preço competitivo do etanol. “É uma safra com volume suficiente para atender a todo o volume de etanol e combustível no Brasil. O preço do etanol é muito convidativo. Desde o início do segundo semestre do ano passado, está muito abaixo do preço da gasolina na maior parte do mercado consumidor no Estado de São Paulo. A diferença é muito grande”, afirmou.

Em Campinas, mesmo com os constantes aumentos, ainda é vantajoso abastecer com o biocombustível. “Eu só rodo com etanol”, disse o motorista de aplicativo Elber Corrêa, que dirige em torno de 350 quilômetros por dia. “Eu cheguei a pagar R$ 3,09 o litro há pouco tempo, mas ainda está compensando”, acrescentou, explicando que o combustível pesa no bolso e é um dos principais custos em sua atividade. Ele abasteceu ontem em um posto onde o etanol era vendido a R$ 3,54 o litro, enquanto o litro da gasolina comum custava R$ 5,34. A diferença de preço foi de 66,29%. Para deixar de ser vantajoso, o derivado da cana teria que representar acima de 70% do preço do combustível produzido a partir do petróleo. Para o consumidor saber qual dos dois combustíveis compensa abastecer o carro, basta pegar o valor da gasolina e multiplicar por 0,7. Se o que está sendo cobrado pelo posto for inferior ao resultado da conta, o etanol é vantajoso.

Em Campinas, a legislação municipal ajuda o consumidor a fazer a comparação sem ter que recorrer ao uso da calculadora na hora de abastecer. A lei nº 14.105, de julho de 2011, obriga os postos a informar em local visível o percentual de diferença entre a gasolina e o etanol. Normalmente, a placa informativa fica próxima às bombas ou na parte inferior da placa com os preços dos combustíveis. O gerente de pista de um posto de combustíveis, Sílvio Nascimento, disse que apenas repassa para as bombas a diferença cobrada pelas distribuidoras. “O combustível é negociado pelo patrão. As distribuidoras não explicam os motivos da alta”, argumentou. Apesar disso, as reclamações dos clientes acabam ocorrendo na ponta da cadeia de distribuição, no momento que param para abastecer o carro.

Os proprietários de veículos também têm de ficar atentos à diferença no valor do etanol, que em Campinas chega a R$ 0,50 por litro. O menor valor encontrado na cidade foi de R$ 3,49, no Centro da cidade, enquanto o maior chegou a R$ 3,99 em bairros como Botafogo, Guanabara e distrito de Barão Geraldo, uma diferença de 14,32%.

“O mais barato que encontrei foi aqui, R$ 3,54”, afirmou o aposentado Mauro Aparecido Goulart. Ele trabalha meio período como motorista de aplicativo e afirmou gastar em torno de R$ 150 com etanol por semana, com variações, mesmo que pequenas, no preço final fazendo diferença no custo do trabalho. De acordo com o levantamento de preços da ANP, apesar da alta, o valor médio do etanol praticado em Campinas é inferior ao Estado de São Paulo, onde ficou em R$ 4,04 na última sexta-feira. A cidade também tem um valor máximo menor, que chegou a R$ 5,19 no Estado. Porém, ela perde quanto ao preço mais baixo encontrado entre os 645 municípios paulistas. O melhor preço foi R$ 3,29, praticado em Lins.

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