PREOCUPANTE

Campinas bate recorde histórico de casos de dengue

Ao atingir 65,8 mil casos em menos de quatro meses, 2024 supera todo o ano de 2015 em número de infecções; epidemia atual é a pior da história da cidade

Eliane Santos/ [email protected]
27/04/2024 às 09:41.
Atualizado em 27/04/2024 às 09:41
População deve checar pelo menos uma vez por semana a existência de possíveis criadouros do Aedes aegypti dentro de casa e permitir a entrada dos agentes de combate à dengue para uma vistoria completa; Prefeitura alertou que cidade poderia bater a marca dos 100 mil casos da doença em 2024 (Rodrigo Zanotto)

População deve checar pelo menos uma vez por semana a existência de possíveis criadouros do Aedes aegypti dentro de casa e permitir a entrada dos agentes de combate à dengue para uma vistoria completa; Prefeitura alertou que cidade poderia bater a marca dos 100 mil casos da doença em 2024 (Rodrigo Zanotto)

Campinas superou na sexta-feira (26) os casos de dengue de 2015 e atingiu a pior epidemia desde 1998, início da série histórica. Em menos de quatro meses, a cidade contabilizou 65.808 casos contra os 65.754 de todo o ano de 2015. Os dados são do Painel de Monitoramento de Arboviroses. da Secretaria de Saúde Municipal, que traz todos os dados da doença, como incidência, perfil dos doentes, índice de internação e outros. O número de mortes, no entanto, ainda é inferior. Em 2015, 22 pessoas morreram vítimas da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti contra as 14 de 1º de janeiro até sexta-feira (26). Ao longo da série histórica, 2014 foi outro ano que se destacou devido ao alto índice de ocorrências. Foram 43.413 casos e 10 óbitos.

Condições climáticas favoráveis a altas temperaturas, circulação de três tipos do vírus e hábitos da população são fatores apontados como responsáveis para a explosão de casos, de acordo com Andrea Von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas. “O aumento da temperatura de 1 a 2 graus já aumenta em 10 vezes a densidade vetorial. Estamos com condições climáticas favoráveis à criação do mosquito de forma ininterrupta”, disse Andrea.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) classifica em quatro os tipos de vírus: O DEN-1 é o que mais afeta os brasileiros, sendo visto como o mais explosivo dos quatro, e pode causar grandes epidemias em um curto prazo. O DEN-3 é o responsável por causar formas mais graves da doença, seguido pelo DEN-2. O DEN-4 é o único que ainda não foi detectado em Campinas. Crianças, adolescentes, além de adultos e idosos que não tiveram contato com a doença antes, são considerados os grupos mais vulneráveis. Além disso, há risco de desenvolver dengue grave quando uma pessoa é infectada por um tipo diferente do anterior.

Para Andrea, a circulação dos três sorotipos da dengue em circulação ao mesmo tempo indica que muitas pessoas ainda podem contrair a doença. “Quem teve o tipo 1, pode, por exemplo, contrair o 2 e também o três, ou seja, contrair dengue mais de uma vez”, afirmou. Embora vivendo a pior epidemia de dengue, a Prefeitura não deve adotar novas medidas além das que já estão sendo executadas. Mas a diretora alerta que a população não pode "baixar guarda", mesmo durante o inverno.

“É preciso vistoriar a residência em busca de criadouro do mosquito pelo menos uma vez por semana, por 10 minutos. O frio torna o processo de procriação do mosquito mais lento, mas não o impede”, alertou a especialista. Ela ainda falou sobre a importância de procurar atendimento médico ao sentir qualquer sintoma. “A hidratação correta e o acompanhamento médico podem fazer a diferença”. Entre os principais sintomas estão febre, manchas e dores pelo corpo.

MEDIDAS

Após a confirmação do novo registro histórico, a Prefeitura divulgou nota reafirmando que tem tomado todas as medidas para evitar casos e mortes pela dengue e ressaltou que o cenário de recorde de casos no município segue uma tendência nacional, já que o Brasil registra a maior epidemia da doença da história. Durante 2023, um estudo da Secretaria de Saúde mostrou que a cidade viveria uma nova epidemia de dengue. Por isso, foram desencadeadas diversas medidas para o enfrentamento da doença, muitas delas consideradas adicionais ao planejamento regular de prevenção e combate à dengue. O plano inclui Sala de Situação para análise sistemática, reorganização da rede municipal de saúde e novo site para divulgar informações.

Em dezembro do ano passado foram reforçados os estoques dos principais insumos usados no tratamento da dengue para garantir o atendimento dos pacientes da rede municipal de saúde. A administração divulgou uma projeção de pelo menos 100 mil casos da doença em 2024. “A Prefeitura de Campinas mantém ações ininterruptas de combate e prevenção à dengue no município, com eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, ações educativas e de mobilização da sociedade e organização e limpeza da cidade. No entanto, é preciso contrapartida da sociedade. As pessoas precisam eliminar criadouros – tudo o que possa acumular água - e dar a destinação correta ao lixo”, enfatizou o Executivo em nota.

Levantamento das secretarias municipal e estadual de Saúde indicam que 80% dos criadouros estão dentro das casas. Por isso, é importante que cada cidadão cuide de seu espaço e permita a entrada dos agentes de saúde, pois quase metade dos espaços não é acessada pelos profissionais por estarem fechados, desocupados ou em razão de impedimento dos moradores.

MUTIRÃO

Neste sábado acontece o 13º mutirão municipal de 2024 para prevenção e combate à dengue. A ação tem início às 8h e a Secretaria de Saúde de Campinas definiu seis bairros que devem ter imóveis visitados pelos agentes de saúde e voluntários: Jardim Aurélia, Jardim Pacaembu, Jardim do Vovô, Jardim Interlagos, Vila Proost de Souza e Jardim Magnólia. O mutirão mais uma vez deve reunir voluntários e agentes da Saúde, incluindo os trabalhadores da empresa terceirizada Impacto Controle de Pragas, que atuam nas visitas aos imóveis para orientação e eliminação de criadouros do mosquito vetor da doença. Eles usam uniforme formado por camiseta branca, com logo da empresa, e calça na cor cinza. Em caso de dúvidas sobre a identificação, a população pode pedir informações pelo telefone 199, da Defesa Civil. 

A melhor forma de prevenção contra a dengue é eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouro, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes e calhas. É importante, ainda, vedar a caixa d'água e manter fechados vasos sanitários inutilizados. O mutirão é multisetorial e conta com apoio de profissionais das secretarias de Serviços Públicos, Habitação, Educação, Assistência Social e Trabalho e Renda, além da Guarda, Defesa Civil, Sanasa e Emdec. O balanço das ações deve ser divulgado nesta segunda, 29.

“Os mutirões têm trazido resultados muito positivos de engajamento da Administração junto com a população na luta contra o mosquito”, avaliou a assessora técnica do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Priscilla Pegoraro. A cidade declarou situação de emergência em 7 de março, e o alerta sobre risco de transmissão da doença vale para todas as regiões da cidade. A Prefeitura realizou neste ano 12 mutirões. Um deles, regional, visitou mais de 50,5 mil imóveis para orientar a população e retirar criadouros do mosquito. Contudo, em cada ação, quase metade dos espaços é achada inacessível pelos agentes. "Os mutirões são instrumentos estratégicos para a prevenção e controle da epidemia na cidade de Campinas. Os voluntários representam a materialização da gestão participava", ressaltou o diretor da Defesa Civil e coordenador do Comitê, Sidnei Furtado.

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