CINEMA

‘Guerra Civil’, com Wagner Moura, imagina um futuro próximo do caos e da violência

Ator brasileiro estrela ao lado de Kirsten Dunst o novo filme da produtora A24

Aline Guevara/ [email protected]
18/04/2024 às 09:28.
Atualizado em 18/04/2024 às 09:29
No filme, Wagner Moura interpreta Joel, um jornalista norte-americano (Divulgação)

No filme, Wagner Moura interpreta Joel, um jornalista norte-americano (Divulgação)

Wagner Moura continua conquistando Hollywood em grande estilo. O ator brasileiro, que tem um currículo de respeito dentro e fora do Brasil, agora estrela a grande estreia da semana, “Guerra Civil”. O novo filme da queridinha A24 (de sucessos como “Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo”, “Hereditário” e “Vidas Passadas”) entra em cartaz depois de liderar as bilheterias nos EUA e quebrar recordes ao se tornar a maior estreia de longa da produtora em território norteamericano.

No filme, Wagner interpreta Joel, um jornalista norte-americano que ao lado da colega, a fotógrafa Lee (Kirsten Dunst), registra a terrível guerra civil em andamento nos EUA. A dupla – junto com o veterano do The New York Times, Sammy (Stephen McKinley Henderson) e a jovem Jessie (Cailee Spaeny, de “Priscilla”) – atravessa o país na tentativa de chegar à sitiada Washington e entrevistar o presidente (Nick Offerman) antes que este seja preso ou assassinado. Graças à atuação e sucesso do longa, o brasileiro tem sido muito elogiado, tanto pela mídia quanto pelo público.

O CORREIO JÁ VIU

Em “Guerra Civil”, o diretor Alex Garland (do excelente “Ex Machina”) atira o espectador para dentro de um conflito caótico, barulhento e assustador. Visualmente e sonoramente, é bastante impactante. Vai um tempo de projeção até nos situarmos sobre a situação que envolve esse futuro distópico que não parece nada distante de nossa realidade. O roteiro, também de Garland, não se preocupa em mastigar explicações. Pelo contrário. A confusão faz parte da experiência.

Isso não significa que não consigamos somar informações ao longo do filme para montar esse quebra-cabeça, porém o cenário nunca fica cristalino. Quem começou o conflito? O que defende exatamente cada lado? Existem forças militares, por exemplo, de ambos os lados (se é que são apenas dois). O que sabemos é que há americanos destruindo americanos, desumanizando as pessoas pelos motivos mais banais em favor da proteção de seus próprios interesses. Muitos podem se incomodar com essa falta de clareza, mas acredito que o filme faz provocações bem interessantes nessa apenas aparente falta de posicionamento.

O olhar jornalístico dentro desse recorte temporal bem específico é a base para a visão do diretor e a nossa como espectador. Em determinado momento, Lee sugere a Jessie não analisar demais a situação violenta e aterrorizante que acabaram de vivenciar, mas fazer como ela, registrar tudo para que outros, à distância, possam fazer essa análise. A fotógrafa de guerra já passou por mais momentos terríveis do que gosta de lembrar e possivelmente tenta assim se proteger e manter a frieza para continuar trabalhando, ciente de que o registro, a denúncia, é imprescindível. Provavelmente também, ela imagina que estando imersa em um contexto tão delicado não poderia ser coerente, justa ou até mesmo correta.

Vários fatores diferentes movem o grupo de jornalistas. O senso de responsabilidade em torno do trabalho de Lee e Sammy, a adrenalina de Joel, o amor pela fotografia e recém-adquirido gosto pelo perigo de Jessie.

Quase todos têm atitudes moralmente questionáveis e é inevitável pensar “de que lado eles estão”. O grupo também vive sua própria alienação pessoal, como os habitantes de uma pequena cidade esquecida no meio do país, mas cada um vai confrontar situações que desafiam essa segurança pessoal ilusória.

Todos estão bem em cena, com destaque para Kirsten Dunst, que assume muitas vezes o protagonismo com a interpretação de uma mulher exausta pela somatória de horrores registrados e que continua vendo eles se repetirem. Da postura do corpo ao olhar cansado e expressão cínica, ela rouba a câmera para si. E sem puxar sardinha para o nosso lado, é preciso falar que Wagner Moura, com um pouco menos de tempo de tela, brilha bastante. Ele cria um Joel charmoso e até insensato, e pelo contraste do que é apresentado de sua personalidade, estrela uma das cenas mais impactantes do filme. Os dois jornalistas se contrastam e também se complementam.

É uma pena que o final de “Guerra Civil” crie um dramalhão óbvio e desnecessário, em desequilíbrio com o todo apresentado até ali. Mas o que fica é a certeza de que é um filme que não vai deixar ninguém indiferente. Mais um acerto para o currículo de Garland.

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