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Campinas celebra Monteiro Lobato, pioneiro da literatura infantil no país

A cidade preserva a memória e a obra de Monteiro Lobato, que ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua coleção de livros infantis

Cibele Vieira/ [email protected]
17/04/2024 às 09:12.
Atualizado em 17/04/2024 às 09:12
Monteiro Lobato foi responsável por trazer para as crianças brasileiras uma literatura nacional (Divulgação)

Monteiro Lobato foi responsável por trazer para as crianças brasileiras uma literatura nacional (Divulgação)

O Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado na quinta-feira (18), é uma homenagem ao primeiro escritor brasileiro a escrever para crianças – Monteiro Lobato –, que nasceu nessa data em 1882. Em Campinas, todas as bibliotecas disponibilizam suas obras, mas há dois locais onde o escritor pode ser mais conhecido e acessado de maneira abrangente. A Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, instalada desde 1985 no Bosque dos Italianos, entre os bairros Guanabara e Chapadão, mantém a coleção completa de obras infantis do escritor para ser manuseada, emprestada ou lida no local. E na Unicamp, o Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio guarda acervos importantes que reúnem 600 manuscritos e datiloscritos, 468 impressos, 600 fotografias e 165 desenhos e aquarelas que também podem ser consultados por qualquer pessoa. 

Embora muitas crianças tenham apenas a série televisiva “Sitio do Pica Pau Amarelo” como referência ao seu nome, Monteiro Lobato foi responsável por trazer para as crianças brasileiras uma literatura nacional, pois até então, o que chegava ao País eram as traduções de publicações estrangeiras. Por isso, o bibliotecário João Henrique Cuelbas, que desde 2017 cuida da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, faz questão de contar sua história para as crianças que visitam o local.

Com um acervo de 7.510 livros infantis e infanto-juvenis (de vários autores) e cerca de 2 mil gibis e histórias em quadrinhos, a biblioteca mantém várias atividades internas e no anfiteatro existente na área externa, inclusive contação de histórias. Mais de mil pessoas já foram atendidas no primeiro trimestre deste ano, mantendo um público fiel de famílias que se interessam por leitura e querem criar o hábito nos filhos. 

“Lobato foi uma figura polêmica, mas muito importante, trazendo o protagonismo da personagem negra Tia Anastácia no Sitio do Pica Pau Amarelo, a história do Jeca Tatu, foi um dos primeiros a desenvolver a indústria editorial no Brasil, foi tradutor, teve ação política na campanha pela produção nacional do petróleo, e criou uma obra muito rica em vários aspectos, por isso precisa ser estudado no contexto de sua época”, opina Cuelbas. 

OBRA PRESERVADA

Roberta de Moura Botelho, coordenadora técnica do Cedae, conta que o acervo tem três conjuntos documentais de Monteiro Lobato. O primeiro é a coleção lobatiana, que foi localizada em um sebo na cidade de Santos (SP) por uma mestranda da universidade, composta por uma coleção de livros, folhetos e outros impressos do autor, que chegou ao acervo em 1999. Ela foi complementada pelo Fundo Monteiro Lobato, com a documentação pessoal produzida por ele e doada pela família no ano 2000. E inclui também a coleção de cartas trocadas com o engenheiro suíço Charley Frankie, que migrou para o Brasil em 1920 e trabalhou em poços de extração de petróleo. Eles ficaram amigos e se corresponderam por anos. 

“É um acervo bem completo, bastante organizado e aberto para consulta pública presencial mediante agendamento prévio ou consulta online pelo site do Cedae”, explica Roberta. Ela comenta que “Monteiro Lobato é um autor importante – aquém das controversas e críticas recentes – pois foi um de nossos principais autores e um homem muito à frente de seu tempo em diversos aspectos. Como autor, ele sistematizou muito do nosso folclore, das nossas lendas, e isso já é um grande motivo para preservar e cuidar de sua obra”. 

UM HISTÓRICO RICO

Contista, ensaísta e tradutor, Lobato nasceu na cidade de Taubaté (SP). Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô. Nesse novo estilo de vida, passou a publicar seus primeiros contos em jornais e revistas, reunindo posteriormente uma série deles no livro Urupês, considerada sua obra prima como escritor. Em uma época em que os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa, Monteiro Lobato tornou-se também editor, passando a editar livros no Brasil. Com isso, ele renovou os livros didáticos e infantis.

Com uma linguagem simples e mantendo realidade e fantasia lado a lado, ele se tornou bastante conhecido entre as crianças, sendo o precursor da literatura infantil no Brasil. A série Sítio do Pica Pau Amarelo, composta por 23 volumes, foi reproduzida para a televisão no final dos anos 1970 e acabou por popularizar sua obra para o público infantil. Entre as personagens mais conhecidas, há a Emília, uma boneca de pano com sentimento e ideias independentes; o Pedrinho, com quem o autor se identifica quando criança; o Visconde de Sabugosa, o sábio sabugo de milho com atitudes de adulto; a Cuca, vilã que aterroriza a todos do sítio; o Saci Pererê e outros.

Mas sua obra vai muito além dos livros infantis. Escreveu publicações literárias para adultos como “O Choque das Raças”, “Urupês”, “A Barca de Gleyre” e “O Escândalo do Petróleo”. Nesse último livro, demonstrou seu nacionalismo, posicionando-se favorável à exploração do petróleo no País apenas por empresas brasileiras. Recentemente, o autor foi alvo de controvérsia em razão de trechos de sua obra serem entendidos como manifestações de racismo e, por conta da polêmica, algumas edições passaram a contar com notas explicativas discutindo a questão.

ONDE CONSULTAR: 

✔ A Biblioteca Infantil Monteiro Lobato fica na Rua Dr. Albano de Almeida Lima, nº 759-933, Jardim Guanabara e atende pelo telefone (19) 32342613. Funciona de segunda a sexta das 8h30 às 12h e das 13h às 16h, com entrada gratuita. Recebe grupos de estudantes para visitas e atividades.

✔ O Centro de Documentação Alexandre Eulalio fica no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp – Rua Sérgio Buarque de Holanda nº 571, Cidade Universitária- Fone (19) 35211505. Funciona de segunda a sexta, das 9 às 12h e das 13h30 às 17h30. Visitas são abertas e gratuitas, mas devem ser agendadas pelo e-mail [email protected].

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