NÃO HOUVE FERIDOS

Incêndio atinge área de mais de 15 mil m² do Instituto Biológico

A causa e os danos ainda serão avaliados; mesmo impedida de atuar em Campinas, Brigada Popular trabalhou para combater as chamas

Daniel Rocha/ [email protected]
26/04/2024 às 09:54.
Atualizado em 26/04/2024 às 09:54
Integrante da Brigada Popular Cachorro do Mato mostra a área atingida pelo incêndio (Alessandro Torres)

Integrante da Brigada Popular Cachorro do Mato mostra a área atingida pelo incêndio (Alessandro Torres)

O primeiro grande incêndio do período de estiagem em Campinas atingiu uma área de pasto de mais de 15 mil metros quadrados do Instituto Biológico, órgão do governo estadual localizado na região do Gramado, próximo à Rodovia Heitor Penteado, na saída para a Rodovia Dom Pedro I. A superfície atingida equivale a um tamanho maior que dois campos de futebol. As chamas atingiram parte da vegetação, queimando algumas árvores, e se aproximaram das margens do Ribeirão do Mato Dentro, porém, segundo a Defesa Civil do município, não atingiram o Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim.

O Corpo de Bombeiros conseguiu controlar o fogo no início da madrugada de quinta-feira, dia 25, por volta de 1h30. O incêndio não deixou feridos e gerou uma forte nuvem de fumaça que chegou até a região da Avenida José de Souza Campos, também conhecida como Norte-Sul. De acordo com a bombeira civil Dulcinea Lopes da Silva, chefe da Brigada Popular Cachorro do Mato, os seguranças do Instituto Biológico identificaram um foco de incêndio por volta das 13h40 e ligaram para o Corpo de Bombeiros, que teria dito que estavam atuando em outras ocorrências e que poderiam demorar para chegar ao local, o que aconteceu.

Por volta das 16h30, os bombeiros apareceram, segundo o relato de Dulcinea, e acabaram com um foco de incêndio perto da Fazenda Mato Dentro, onde fica o IB, e então se retiraram.

“Os bombeiros não perceberam a existência de vários outros focos de incêndio dentro do pasto localizado nas redondezas. Foi aí que um esquadrão de brigadistas foi organizado. Às 18h, os primeiros homens e mulheres chegaram e identificaram fogo em grande extensão e proporção, consumindo até as copas de algumas árvores”, relembra Dulcinea.

Ela diz ainda que por volta das 18h40 um foco de incêndio foi extinto próximo a um barracão repleto de insumos pertencentes ao instituto e também perto de três casas de madeira existentes na parte mais alta da fazenda. Uma equipe da Cachorro do Mato, composta por quatro pessoas, voltou na quinta-feira pela manhã ao local a fim de realizar o rescaldo e se certificar de que não havia mais nenhum foco de incêndio ou risco deste ser reiniciado. Segundo Dulcinea, em alguns lugares o fogo estava voltando, porém o grupo presente no local atuou no combate dos pequenos focos resistentes.

Durante o incêndio, os brigadistas da Cachorro do Mato teriam sido impedidos de continuar combatendo o fogo, o que, de acordo com o relato da brigada, vale para qualquer incêndio que aconteça no município de Campinas.

A Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas) disse que tomou providências para acionar o Corpo de Bombeiros assim que foi informada sobre o incêndio no Instituto Biológico. A Pasta afirmou que não impediu a brigada de atuar. No entanto, ressaltou que o Ministério Público Estadual (MPE-SP) questionou a atuação da brigada pelo fato de não estar regularizada junto ao Corpo de Bombeiros e que, na mesma ocasião, “sob pena de improbidade administrativa do secretário Rogério Menezes”, o MPE-SP pediu que o órgão tomasse providências sobre o fato. A Prefeitura, então, decidiu notificar a entidade a não exercer as suas atividades até a sua regularização junto aos Bombeiros. A interdição se deu através de uma portaria publicada no Diário Oficial do Município no último dia 8 de abril.

Imagens das chamas que avançavam na área do Instituto Biológico na noite de quarta-feira (Divulgação)

Imagens das chamas que avançavam na área do Instituto Biológico na noite de quarta-feira (Divulgação)

De acordo com a chefe da Brigada Popular, “houve uma denúncia falsa contra a brigada. Na investigação, a Promotoria do Meio Ambiente de Campinas questionou o Corpo de Bombeiros, que respondeu que combate a incêndio florestal é atividade ‘restrita’ a eles e que a brigada não pode apagar nenhum tipo de incêndio florestal”. Segundo Dulcinea, o inquérito ainda está em andamento.

Ela explica que a Cachorro do Mato tem estatuto, CNPJ e que já foram contemplados com a verba de um projeto do Fundo Casa Socioambiental, organização que busca promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, para a compra de equipamentos de proteção individual (EPI's).

“Nós somos uma organização civil, sem fins lucrativos, que se organizou em setembro de 2020 e que atua na esfera da educação ambiental, com foco na prevenção e no combate a incêndios florestais”, explica a bombeira civil.

Dulcinea lembra também que os treinamentos de formação de brigadistas florestais voluntários acontece a cada e que duas turmas já foram formadas. Além disso, ela afirma que a Brigada Popular já atuou na defesa de importantes fragmentos florestais da região, como a Mata Ribeirão Cachoeira, que fica na Área de Preservação Ambiental (APA) Campinas, a própria fazenda do Instituto Biológico, a APA Campo Grande, a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Matão, em Cosmópolis, e a Serra dos Cocais, em Valinhos.

“Nós somos uma organização civil independente e que pode trabalhar com diversas instituições, como o ICMBio, o Instituto Biológico e o próprio Corpo de Bombeiros”, finaliza a chefe de brigada.

APURANDO AS PERDAS

Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, as perdas provocadas, assim como a causa do incêndio que atingiu o Instituto Biológico, estão sendo apuradas. Um levantamento preliminar indica que somente a área de pasto, no entorno do instituto, foi atingida e que não houve danos à mata principal e nem à área de reflorestamento das nascentes.

Após a análise do Corpo de Bombeiros e da equipe técnica do Instituto Biológico, será divulgada a dimensão das perdas, além de um plano para recuperar as áreas atingidas.

CORPO DE BOMBEIROS

A equipe do Correio Popular entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSPSP), que disse que os questionamentos enviados a eles sobre o incêndio no Instituto Biológico, bem como sobre a Brigada Popular Cachorro do Mato, seriam respondidas pelo 7º Grupamento de Bombeiros de Campinas. Não houve posicionamento até o fechamento da matéria.

OPERAÇÃO ESTIAGEM

A Prefeitura de Campinas confirmou que a Operação Estiagem 2024 começa na próxima quarta-feira, 1º de maio, e se estende até 30 de setembro. Durante esses quatro meses, o mais seco do ano, as ações de prevenção e monitoramento são intensificadas na cidade. O período de estiagem causa elevação no risco de incêndio em área de cobertura vegetal, baixa a vazão dos mananciais e a umidade relativa do ar e conta com quedas bruscas de temperatura.

A operação foi oficializada pelo Decreto n˚ 23.324, publicado na quinta-feira, dia 25, no Diário Oficial do Município. A Operação Estiagem 2024 tem como base a adoção de medidas preventivas para minimizar os efeitos da seca e deflagrar ações a partir do acompanhamento dos índices de baixa umidade relativa do ar (URA), da previsão meteorológica e de imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Além disso, são realizadas vistorias de campo para verificar a vazão dos mananciais e prevenir focos de incêndios em área de cobertura vegetal.

O decreto estabelece que fica adotada, como padrão, a temperatura de 10˚C (dez graus Celsius) para definir o alerta em função de queda brusca de temperatura. Em relação à baixa umidade relativa do ar (URA) são três níveis para os alertas: Estado de Atenção: URA entre 20% e 30%; Estado de Alerta: URA entre 12% e 20%; Estado de Emergência: URA abaixo de 12%.

ORIENTAÇÃO

O Departamento de Defesa Civil de Campinas explica que é importante que a população não faça a limpeza de terrenos com fogo ou queima de entulhos, pois as queimadas representam um risco não apenas ao meio ambiente, mas também à saúde pública. Além disso, alguns produtos, como o plástico, geram uma fumaça tóxica que pode trazer riscos à saúde das pessoas no entorno. A Defesa Civil alerta que não é permitida a fabricação, armazenamento ou soltura balões. Ao avistarem uma situação semelhante, a população deve acionar a Guarda Municipal pelo telefone 153. No caso de focos de incêndio, o Corpo de Bombeiros é quem deve ser acionado por meio do 193.

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