EM CAMPINAS

Câmara reforça esquema de segurança após ofensas e ameaças a vereadores

E-mail enviado à Ouvidoria da Casa e a gabinetes se refere a seis parlamentares, todos negros, com declarações racistas e homofóbicas; texto falava em promover “massacre”

Luis Eduardo de Sousa / [email protected]
07/05/2024 às 10:45.
Atualizado em 07/05/2024 às 10:45
Veículo da Guarda Municipal de Campinas estacionado defronte ao Plenário da Câmara de Vereadores: Legislativo amplia a segurança diante de ofensas e ameaças a seis parlamentares, todos eles negros (Kamá Ribeiro)

Veículo da Guarda Municipal de Campinas estacionado defronte ao Plenário da Câmara de Vereadores: Legislativo amplia a segurança diante de ofensas e ameaças a seis parlamentares, todos eles negros (Kamá Ribeiro)

A Câmara Municipal de Campinas divulgou, no início da tarde de ontem (06), a adoção de medidas que buscam garantir a integridade física dos vereadores, servidores e do público, entre elas o reforço na segurança no entorno do prédio e nas atividades internas do Legislativo. O anúncio foi feito após e-mails com declarações racistas, homofóbicas e prometendo um massacre no parlamento contra seis vereadores negros serem recebidos por diversos gabinetes e pela Ouvidoria da Casa. Os ameaçados são a vereadora Paolla Miguel (PT), Major Jaime (União), Permínio Monteiro (PSB), Higor Diego (Republicanos), Cecílio Santos (PT) e Guida Calixto (PT), todos negros. As mensagens prometem um massacre generalizado na Câmara Municipal caso os parlamentares citados não renunciem.

As ameaças foram emitidas em nome do analista de sistemas Ricardo Wagner Arouxa, de 35 anos. O rapaz, que é do Rio de Janeiro (RJ), tem seu nome usado na prática de ameaças contra políticos negros e da comunidade LGBT desde 2017. Em 2020, Arouxa foi vítima de uma nova onda de ataques contra políticos praticados com seu nome, motivo que o levou a criar um alerta no Google para notícias com seu nome. Segundo investigações policiais da época, a quadrilha que usava o nome do analista de sistema para praticar os ataques existe desde 2012, ano em que dois dos responsáveis pelo grupo foram presos: Marcelo Valle e Emerson Eduardo Rodrigues. Não é possível afirmar, no entanto, que as ameaças direcionadas aos parlamentares de Campinas decorrem do mesmo grupo.

Ainda ontem, a presidência da Casa convocou uma reunião com os vereadores para propor que eles registrem juntos um Boletim de Ocorrência em nome da instituição. A vereadora Paolla Miguel, no entanto, se antecipou e foi à polícia horas após o recebimento da ameaça. “O texto (das ameaças) está carregado de ofensas racistas, LGBTfóbicas e cita ainda o termo “preta lixo”, mesma expressão utilizada contra mim em 2021 por uma apoiadora da extrema direita. Embora a situação exija muita frieza, não estou exatamente surpresa com isso. Já reiterei por diversas vezes na Câmara que normalizar as atitudes de extrema direita no plenário não é bom para Campinas, para o parlamento e muito menos para a saúde da nossa democracia”, disse Paolla em nota oficial publicada em suas redes sociais.

Além da vereadora e da própria Casa, a bancada do PT registrou um boletim de ocorrência em nome de seus três vereadores. “Diversas medidas legais e de segurança já estão em curso para proteger a vida dos vereadores e vereadoras, suas equipes, bem como a integridade da própria Casa. Extremistas e terroristas precisam ser identificados, detidos e responder por isso na Justiça”, informou o Partido dos Trabalhadores em nota emitida.

O vereador Major Jaime afirmou à reportagem que tomou conhecimento sobre as mensagens por meio da Ouvidoria e de outros colegas. “Acho que o correto é que a resposta venha pela Câmara. Vou assinar o requerimento da Casa pedindo providências quanto à investigação à Polícia Civil, que já está ciente e ajudando na apuração.”.

O vereador Permínio comunicou que também fez um Boletim de Ocorrência individual. “É preocupante viver isso nos dias de hoje. Uma ameaça contra o Poder Legislativo, contra a democracia. Fico preocupado. Meu gabinete, meus familiares... Temos que nos prevenir e tomar as devidas providências de forma conjunta para chegarmos aos verdadeiros autores dessas ameaças. É um ataque ao Poder Legislativo e que nos deixa apreensivos.”.

Em nota, a Câmara repudiou as mensagens e informou que vai reforçar a segurança no entorno e nas atividades internas. Disse ainda que vai elaborar uma representação ao Departamento de Polícia Judiciária 2 (Deinter-2) solicitando investigação para apurar os fatos, ampliar o rigor no acesso e credenciamento de populares à Casa e reforçar a segurança durante a realização dos trabalhos da Comissão Processante contra a vereadora Paolla Miguel. A parlamentar foi a única a receber ameaças diretas entre os cinco alvos dos criminosos. Há, no mínimo, 15 graves ofensas racistas e contra homossexuais no texto recebido. Recentemente, Paolla virou alvo de colegas da direita após destinar uma emenda parlamentar a uma festa realizada no distrito de Barão Geraldo, marcada por cenas de teor sexual. O caso resultou na Comissão Processante contra a petista. Também alvo das ameaças, o vereador Higor Diego foi procurado, mas não retornou o contato feito pela reportagem até o fechamento desta edição.

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